Friday, March 27, 2009

Veni, vidi, vici

Eis que chega e enegrece
Essa luz calada e sorrateira
Carregada de silêncios que só a noite tece,
Consigo traz os sentidos das gentes
Perdidos, esquecidos,
Guardados em buracos de algibeira

Eis que só ela vê e ilumina,
É curto o pavio da verdade,
Acalentado pela chama nua, crua, pequenina
A guardiã dos segredos da idade

Eis que vence e proclama a sua sentença
Assim se cumprem novos fados,
Cegou-se Édipo, matou-se sua mãe,
Acordamos do nosso sono, somos reis de ninguém
Estamos mal, sós, ainda que bem acompanhados

Thursday, September 18, 2008

A caixa de Pandora

Na minha janela se esconde o mundo
Por isso deixo-a fechada
O ritual que a acompanha é simples
Aproximo-me, olho, ouço, paro
Depois concluo que a curiosidade não é o único ingrediente da perdição,
Que algo que popularmente elimina as sete vidas de um gato, não mata o Homem
Pois sou Homem e vivo

De um rectângulo observo as fatalidades da vida
A frenética movimentação citadina,
Os inquietos olhares que aspiram por segundos de inactividade
As luzes que no colo da noite denunciam uma secreta ansiedade,
Vontades omissas que rodeiam os rostos de quem as sente,
Escuto os segredos do silêncio, aqueles que todos vêem e não ousam verbalizar,
Ao longe, e tão perto, soam alarmes de impaciência, suspiros da calçada – cansada de ser pisada por tudo (e por nada) –, murmúrios das árvores que abrigam as esperanças humanas…
Permaneço imóvel, receando saber de mais, arrependida de querer verdades maiores que as de minha casa
Conto até cinco e procuro remediar o mal provocado
Em mim algo grita “as desculpas não se pedem evitam-se” e rapidamente se manifesta o castigo à minha insolência
À minha frente, avisto uma carreira de inúmeras perguntas que impedem que a luz de presença seja apagada

Sunday, February 17, 2008

França, América e Luxemburgo...

Every single tear had cleared my dirty face,
Every single fear was proving himself too hard to trace
And there I was, drowning in that sort of sea,
That deep private world
Filled with warm past memories and present cold misery

My last breath, though, was yet far to come
Still needed to prove everyone I have to suffer in order to earn

So here I am, desperately trying to fight
Secretly waiting for the three identical sisters to come and kiss me goodnight

Wednesday, February 13, 2008

Finding Marialand

Não sei quem foi que me disse, que fez tamanha tolice, hoje e não no passado...mas quem foi não fazia ideia, de quem tinha à sua beira. Coitado!

Ouvi que se chama Maria, bela, alta e esguia, fera de muito encanto...sedutora endiabrada, qual princesa encantada que a todos deixava num pranto.

Quando dei por mim (pelos pensamentos sem fim), entrara no labirinto dos oito pecados: tinha ira por a invejar, gula de a copiar, soberba (pela preguiça de me esforçar) e avareza, por imaginar-me capaz de sentir a luxúria que se alcança quando se é...a Maria.

O processo de metamorfose continuou, e neste dia aqui estou: exposta, por provar o Fruto Proibido. A maçã avermelhada mostrou-se assim envenenada e a magnífica pérola tornou-me menos do que incrédula por acreditar na boca do povo.E não é que a fascinante senhora se mostrou uma cigana, uma rapariga num bairro de origem africana, mais limpa que um chão bem polido?!

Onde estava a tigreza? Essa infame beleza que matava o homem pelo coração...Enfim, desvanecera, sem existir aqui e então.No fim, em vez da femme fatal que não quer ninguém(e não conhece quem a não queira), conhecera Maria João Quaresma, minha conselheira, uma encantadora criançota, que de sujo não tinha mais do que viver na aldeia da Porcalhota.

Sunday, July 22, 2007

O Cordeiro

Hoje, sou nevoeiro
Um sopro profundo que adormece a alma e engana os sentidos

Hoje, sou candeeiro de petróleo
A chama que já não conhece mas que caminha para a verdade,
A fogueira que incendeia o mundo

Hoje, sou rio
O místico Nilo que percorre os tempos
Sei onde começo, onde acabo, mas ramifico-me
Começo e acabo da mesma maneira, naturalmente
E no fim, toda eu fui um mar de separações
Pois que toda a minha vida foi guiada por forças
Saciei quem a mim recorria, quem me achava Fonte
Fui um muro, a sábia Parede confidente
E porque ser-se sábio é ser-se ouvido, ouvi
Fui baú, não Arca, pois que guardei e não soube tudo
Porque saber não é só ouvir, é interpretar

Hoje, sou Máscara
Por me ver grega, sou duas caras
Por ser duas caras, vejo-me grega
Finjo vivendo ou vivo fingindo

Hoje, quero ser o Mestre
Quero ser ovelha, quero ver
Ver sem pensar
“Porque pensar é estar doente dos olhos”

Hoje, quero chegar ao fim da linha e dizer que não fui Ícaro

Hoje, quero querer pouco,
Quero deixar de ser ninguém por tudo ser

Hoje, quero ser Cordeiro
Acordar para a liberdade do meu eu mesmo
Para adormecer sabendo que o fui...

Thursday, April 12, 2007

Em memória de Dionisio, o meu Apolo, quando já tinha barbas

Pela estrada da vida andava ele,
Queimado pelo fogo das armas pretas da liberdade
Iluminado pelo sol abrasador que o conduzira
Ao local onde amadureceria o fruto, a tenra idade

Pela estrada fora andara ele,
Sua bengala era a pedra de Polegar,
O fiel pau que conduz
O Ceptro que o ordenaria soldado
Que faria de si guerreiro da Luz...

Chegou, chegara...

Os seus olhos eram mapa da dureza das calçadas
O seu nariz mostrava a montanha de quem caminha para Maomé
A sua boca exprimia trabalho e humildade
De quem desejava somente “triguinhos” do Sr. Zé

Falo de um traidor,
Do maior ladrão do Côa,
Que roubou o nosso coração e deixou nada mais que a saudade
De um deus do vinho, do filho de Cabral,
De Dionisio, o homem de tenra idade,
Que com vergonha nos presenteava com os seus cantos
Do peregrino de um caminho longo,
Que para trás acabou por deixar a criança dos dentes brancos

Valete Fratres

“É a Hora”
Exaltai-vos irmãos pois eis que chegou o momento
Ide, vinde, culminai o lamento
Aclamai o novo vento por esta estrada fora

Tochas, fogo fatal da libertação
Sim, libertai-nos allora
Guiai-nos por esta estrada fora
Ide, vinde força da razão
Deixai que as chamas consumam o ardor
De todos aqueles que nunca “ousaram passar além do Bojador”

Balas, enchei os tubos vossos por direito
Que há tanto tempo a flor os tomou
Acordai Portugal do seu leito
Dizei-lhe que “eu vou, eu vou…”

Vou, vou por esta estrada fora
Ide, vinde comigo halo guerreiro
Punir os que ousaram roubar a “Distância” de outrora
Tirar do poder o grego ancião, colocá-lo nas mãos do mundo inteiro

Soe a trombeta Lusitana,
Flua por esta estrada iluminada
Pois que fomos e viemos desinquietar a raça humana,
Feri-la, purgá-la com a espada Sagrada

(Um cozinheiro mascarado pisará Lisboa
Para de um pinto fazer um manjar
Ele sim, será o dono da Coroa
Nas quatro e três colinas, num altar)

“É a Hora”