Thursday, September 18, 2008

A caixa de Pandora

Na minha janela se esconde o mundo
Por isso deixo-a fechada
O ritual que a acompanha é simples
Aproximo-me, olho, ouço, paro
Depois concluo que a curiosidade não é o único ingrediente da perdição,
Que algo que popularmente elimina as sete vidas de um gato, não mata o Homem
Pois sou Homem e vivo

De um rectângulo observo as fatalidades da vida
A frenética movimentação citadina,
Os inquietos olhares que aspiram por segundos de inactividade
As luzes que no colo da noite denunciam uma secreta ansiedade,
Vontades omissas que rodeiam os rostos de quem as sente,
Escuto os segredos do silêncio, aqueles que todos vêem e não ousam verbalizar,
Ao longe, e tão perto, soam alarmes de impaciência, suspiros da calçada – cansada de ser pisada por tudo (e por nada) –, murmúrios das árvores que abrigam as esperanças humanas…
Permaneço imóvel, receando saber de mais, arrependida de querer verdades maiores que as de minha casa
Conto até cinco e procuro remediar o mal provocado
Em mim algo grita “as desculpas não se pedem evitam-se” e rapidamente se manifesta o castigo à minha insolência
À minha frente, avisto uma carreira de inúmeras perguntas que impedem que a luz de presença seja apagada

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