Sunday, July 22, 2007

O Cordeiro

Hoje, sou nevoeiro
Um sopro profundo que adormece a alma e engana os sentidos

Hoje, sou candeeiro de petróleo
A chama que já não conhece mas que caminha para a verdade,
A fogueira que incendeia o mundo

Hoje, sou rio
O místico Nilo que percorre os tempos
Sei onde começo, onde acabo, mas ramifico-me
Começo e acabo da mesma maneira, naturalmente
E no fim, toda eu fui um mar de separações
Pois que toda a minha vida foi guiada por forças
Saciei quem a mim recorria, quem me achava Fonte
Fui um muro, a sábia Parede confidente
E porque ser-se sábio é ser-se ouvido, ouvi
Fui baú, não Arca, pois que guardei e não soube tudo
Porque saber não é só ouvir, é interpretar

Hoje, sou Máscara
Por me ver grega, sou duas caras
Por ser duas caras, vejo-me grega
Finjo vivendo ou vivo fingindo

Hoje, quero ser o Mestre
Quero ser ovelha, quero ver
Ver sem pensar
“Porque pensar é estar doente dos olhos”

Hoje, quero chegar ao fim da linha e dizer que não fui Ícaro

Hoje, quero querer pouco,
Quero deixar de ser ninguém por tudo ser

Hoje, quero ser Cordeiro
Acordar para a liberdade do meu eu mesmo
Para adormecer sabendo que o fui...

Thursday, April 12, 2007

Em memória de Dionisio, o meu Apolo, quando já tinha barbas

Pela estrada da vida andava ele,
Queimado pelo fogo das armas pretas da liberdade
Iluminado pelo sol abrasador que o conduzira
Ao local onde amadureceria o fruto, a tenra idade

Pela estrada fora andara ele,
Sua bengala era a pedra de Polegar,
O fiel pau que conduz
O Ceptro que o ordenaria soldado
Que faria de si guerreiro da Luz...

Chegou, chegara...

Os seus olhos eram mapa da dureza das calçadas
O seu nariz mostrava a montanha de quem caminha para Maomé
A sua boca exprimia trabalho e humildade
De quem desejava somente “triguinhos” do Sr. Zé

Falo de um traidor,
Do maior ladrão do Côa,
Que roubou o nosso coração e deixou nada mais que a saudade
De um deus do vinho, do filho de Cabral,
De Dionisio, o homem de tenra idade,
Que com vergonha nos presenteava com os seus cantos
Do peregrino de um caminho longo,
Que para trás acabou por deixar a criança dos dentes brancos

Valete Fratres

“É a Hora”
Exaltai-vos irmãos pois eis que chegou o momento
Ide, vinde, culminai o lamento
Aclamai o novo vento por esta estrada fora

Tochas, fogo fatal da libertação
Sim, libertai-nos allora
Guiai-nos por esta estrada fora
Ide, vinde força da razão
Deixai que as chamas consumam o ardor
De todos aqueles que nunca “ousaram passar além do Bojador”

Balas, enchei os tubos vossos por direito
Que há tanto tempo a flor os tomou
Acordai Portugal do seu leito
Dizei-lhe que “eu vou, eu vou…”

Vou, vou por esta estrada fora
Ide, vinde comigo halo guerreiro
Punir os que ousaram roubar a “Distância” de outrora
Tirar do poder o grego ancião, colocá-lo nas mãos do mundo inteiro

Soe a trombeta Lusitana,
Flua por esta estrada iluminada
Pois que fomos e viemos desinquietar a raça humana,
Feri-la, purgá-la com a espada Sagrada

(Um cozinheiro mascarado pisará Lisboa
Para de um pinto fazer um manjar
Ele sim, será o dono da Coroa
Nas quatro e três colinas, num altar)

“É a Hora”

Monday, March 26, 2007

Admito

Sou o Mito,
O nada que é tudo de Pessoa,
A pessoa que não sou,
Alguém que se perde para que a realidade não doa,
O ser, o sonho de outros, que voou
Apanhei-o...
Admito

Sou o Ego,
O eu Maior que os outros
“Alguém discorda? Recorremos a votações”
(Menosprezamos as objecções)
Venci,
Sou Superior a tudo, Superior a todos
Admito

Sou a Esperança,
A Cura da dor que consome, a Dor que liberta
O Cigarro vicioso,
O Comprimido luminoso, que para o Fim nos desperta
Sou o D. por que aguarda o aflito,
Uma Alucinada...
Admito

Sou o Medo,
O terror que conduz e consome,
A Chama que chama, que existe por não ser finda,
O fogo frio que arde ainda;
O Receio do ataque, o Ataque da defesa, o Resultado da firmeza.
Tremendo...
Admito

O que admito, sou-o
O que sou, divirto-me sendo
Pois que o Mito, o Ego, a Esperança e o Medo
São realidades (serão realidades?) que não compreendo
Se sei o que sou, não sei o que escrevo
E isso, admito

Friday, March 16, 2007

Lisbon Rewatched (da varanda da prof. de história)

Lisboa
O Tejo é o sangue que corre nas tuas veias
O verde são os teus braços
E nele habitam a Mouraria,
Graça, Alfama, Madragoa
Numa perfeita criação divina

Hoje é quase Verão
O Sol apaixona-se pelo mar
Subitamente, os dois beijam-se
O céu fica laranja-amor
E Lisboa, ainda mais bonita

Uma brisa torna perfeito este dia
pequenos veleiros vão e vêm
Como numa tela
Os pássaros chilream
e as arvóres marcam o ritmo
desta sinfonia

Ao longe, por vezes,
Ouvem-se carros e outros ruídos
Mas nada destoa
E porque tudo é perfeito
minh'alma apregoa:
"Oh, meu Deus!
Que o Céu seja como Lisboa!"