Sunday, July 22, 2007

O Cordeiro

Hoje, sou nevoeiro
Um sopro profundo que adormece a alma e engana os sentidos

Hoje, sou candeeiro de petróleo
A chama que já não conhece mas que caminha para a verdade,
A fogueira que incendeia o mundo

Hoje, sou rio
O místico Nilo que percorre os tempos
Sei onde começo, onde acabo, mas ramifico-me
Começo e acabo da mesma maneira, naturalmente
E no fim, toda eu fui um mar de separações
Pois que toda a minha vida foi guiada por forças
Saciei quem a mim recorria, quem me achava Fonte
Fui um muro, a sábia Parede confidente
E porque ser-se sábio é ser-se ouvido, ouvi
Fui baú, não Arca, pois que guardei e não soube tudo
Porque saber não é só ouvir, é interpretar

Hoje, sou Máscara
Por me ver grega, sou duas caras
Por ser duas caras, vejo-me grega
Finjo vivendo ou vivo fingindo

Hoje, quero ser o Mestre
Quero ser ovelha, quero ver
Ver sem pensar
“Porque pensar é estar doente dos olhos”

Hoje, quero chegar ao fim da linha e dizer que não fui Ícaro

Hoje, quero querer pouco,
Quero deixar de ser ninguém por tudo ser

Hoje, quero ser Cordeiro
Acordar para a liberdade do meu eu mesmo
Para adormecer sabendo que o fui...